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Entre no avião


Eu sempre gostei de voar. Voar em um avião, voar nos meus sonhos, voar nas minhas meditações. Me vejo como um pássaro, tatuei um pássaro nas minhas costas, voando, livre...


Nos últimos anos voei bastante de avião. Fui pra muitos países, muitas cidades diferentes. Nunca tive medo, nem na decolagem, nem na aterrissagem, nem durante o voo. Algumas vezes, durante um voo longo, senti que as turbulências, os balanços do avião, me ninavam e relaxavam.


Mas algo aconteceu no último voo que fiz de Oslo para Amsterdam. Era noite, final de inverno. Ainda tinha muita neve na Noruega, as temperaturas oscilavam entre o positivo e o negativo. Isso fez com que as asas da aeronave se congelassem, então o voo atrasou uns 20 minutos para que as asas fossem descongeladas, livradas do gelo que se formou na sua superfície. Isso é muito comum no inverno, e já tinha acontecido em um voo no inverno anterior, quando eu também saia da Noruega.


Quando finalmente o avião se encaminhou para a pista de decolagem, o comandante se dirigiu aos passageiros e avisou que íamos encontrar rajadas de vento no percurso até Amsterdam. Eu não senti nenhum medo da informação, nem antecipei nada. Coloquei meus fones de ouvido e coloquei a música "Titanium" interpretada por Boyce Avenue no repeat. Algumas vezes, em algumas músicas, eu entro em um profundo estado de meditação quando ouço a música diversas vezes em seguida.



E assim eu estava, em estado meditativo. Por algum tempo já tinha buscado a minha essência, me desnudado do meu ego, entendido meu propósito. Tinha me livrado da culpa, através da hipnose. Tinha perdoado meus progenitores pelos seus erros e tomado meu futuro nas minhas mãos. Mas ainda existia uma trava: o medo do futuro, a insegurança financeira, a incerteza.


Nesse momento, o avião começou a passar pela rajada de vento. Sabe aqueles filmes onde as luzes se apagam, as máscaras de oxigênio caem, o cinto realmente te segura na poltrona? Pois é, foi assim. Por mais de 30 minutos. Eu, sentada entre um homem à direita e uma senhora à esquerda, tive meus braços ocupados pelos dois, que me seguravam como se eu realmente soubesse voar. Deixei. Na hora, e durante aquela meia hora, senti o maior relaxamento que eu já senti na minha vida. A poltrona parecia até me engolir, de tão relaxada que eu estava. Nos meus ouvidos, ao invés dos pequenos gritos de terror que se ouvia na aeronave, eu ouvia que eu era à prova de balas e não tinha nada a perder, na minha música em repeat.


A sensação foi tão fantástica, de tanta paz e tanto relaxamento, que em algum momento eu me perguntei o porquê disso. Nesse momento, uma epifania aconteceu. Vou explicar.


Para estar no avião, tive uma grande participação. Comprei as passagens, fiz minha mala, cheguei na hora no aeroporto, fiz o checkin, apareci no portão indicado na hora que eu precisava, apresentei meu passaporte, fui até o avião, subi as escadas e procurei meu assento. Pus o cinto e fiquei sentada, sem nenhum chilique, até a hora que fecharam a porta do avião.


Aí, começa a parte que está fora do meu controle. Depois que fecham a porta do avião, não tem mais nada que eu possa fazer. Se decolarmos, decolamos. Se ficarmos no ar, ficamos. Se o avião cair, por qualquer motivo que seja, causa humana, de máquina ou ambiental, eu caio junto. Não importa o que eu faça, irá acontecer.


Nessa hora, entendi o que me faltava na vida. Eu queria poder tomar decisões acertadas, ter paz, seguir meu propósito, não me irritar com quem discorda de mim, não ter medo. Mas faltava eu entender que eu precisava entrar no avião na minha vida. Eu precisava lembrar que eu sou responsável até um ponto, e depois disso, as portas do avião se fecham. Não adianta sofrer quando isso acontece.


Foi um divisor de águas. Quando pousei no Brasil (sobrevivemos todos!), recebi diversas notícias ruins. Quando me vi angustiada, ansiosa, lembrei de entrar no avião. E assim eu fiz. O que eu posso fazer, eu faço. O que não posso controlar, eu relaxo. Profundamente.


Quando coloquei isso em prática, as coisas começaram a acontecer. Exatamente como eu queria. Sem nenhuma intervenção minha. Parecia que eu finalmente me alinhei com o universo, com Deus, com os planos divinos, com meu anjo da guarda, com meu Eu superior. Pode dar o nome que você quiser, de acordo com sua crença.


Espero que essa metáfora te ajude a repensar sua vida ;-) Se ajudou, comenta aqui embaixo!

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